Em uma pequena vila nos arredores da capital de Moçambique, a chegada da eletricidade desencadeou uma onda de atividade econômica, um microcosmo de um esforço nacional maior para levar energia aos seus 33 milhões de cidadãos. A história de Hermínio Guambe, um barbeiro de 48 anos que modernizou seu negócio com secadores de cabelo, destaca o poder transformador da eletrificação.

O presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, durante uma visita recente, ressaltou esse ponto. “Eletricidade não é apenas luz, é uma oportunidade”, afirmou, enfatizando que essas pequenas empresas são os motores do crescimento econômico.

Moçambique, uma das nações mais pobres do mundo, estabeleceu uma meta ambiciosa de alcançar o acesso universal à eletricidade até 2030, um desafio que se reflete em toda a África Subsaariana, lar de 85% da população global sem energia elétrica. O progresso do país é notável, com o acesso à eletricidade quase dobrando de 31% em 2018 para 60% em 2024. A concessionária estatal, Electricidade de Moçambique (EDM), conectou mais de meio milhão de residências somente no ano passado.

A pedra angular dessa estratégia é a usina hidrelétrica de Mphanda Nkuwa, orçada em US$ 6 bilhões, um projeto que deverá ser o maior do gênero na África Austral em cinco décadas. Localizada a jusante da barragem de Cahora Bassa, espera-se que gere 1.500 megawatts, ajudando a suprir um déficit energético regional de 10.000 megawatts.

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O projeto está sendo desenvolvido por um consórcio que inclui a TotalEnergies, a Électricité de France e a Hidroeléctrica de Cahora Bassa. O Banco Mundial está fornecendo um conjunto de apoios, incluindo financiamento concessional para infraestrutura, garantias parciais de risco e seguro contra riscos políticos, uma estratégia que se afasta da dependência tradicional de doadores em direção ao crescimento liderado pelo setor privado.

Embora projetos de grande porte como Mphanda Nkuwa sejam cruciais, a vasta paisagem rural do país exige uma abordagem dupla. O presidente da EDM, Joaquim Ou-Chim, reconhece a necessidade de “soluções off-grid, impulsionadas principalmente pela energia solar” para alcançar comunidades remotas. Cerca de 10% do acesso atual vem dessas soluções, com mais em desenvolvimento.

O impulso da eletrificação, no entanto, não está isento de críticas. Evaristo Cumbane, consultor de energia sediado em Maputo, alerta para o crescente endividamento de Moçambique, que atingiu aproximadamente US$ 17 bilhões no primeiro trimestre de 2025. Ele enfatizou que o financiamento de instituições como o Banco Mundial não é doação e implica obrigações financeiras significativas.

Apesar desses desafios, a perspectiva de novos postes de energia oferece esperança para muitos, incluindo Aurélio Arlindo, um morador de 38 anos de um subúrbio de Maputo, que sonha em abrir uma barraca de bebidas geladas. Para muitos moçambicanos, o zumbido do novo secador de cabelo de um barbeiro é um poderoso símbolo de progresso e a promessa de um futuro melhor.

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